Como Chomsky explica a aquisição da linguagem?
Para Chomsky, a linguagem humana é um resultado da evolução, fruto de uma mutação genética que nos equipa com um sistema recursivo. Esse sistema, que combina sons e ideias, permite a produção de um número infinito de sentenças, tornando a linguagem humana única e ilimitada.
A Gramática Universal de Chomsky: Desvendando o Mistério da Aquisição da Linguagem
A capacidade humana de dominar a linguagem, com sua complexidade e riqueza, sempre fascinou linguistas e cientistas cognitivos. No cerne dessa discussão está a obra de Noam Chomsky, que revolucionou o campo da linguística com sua teoria da Gramática Universal. Ao contrário das abordagens comportamentalistas que prevaleciam em sua época, Chomsky argumenta que a aquisição da linguagem não se dá simplesmente através da imitação e reforço, mas sim por meio de um mecanismo inato presente em nosso cérebro.
Para Chomsky, a facilidade com que crianças adquirem sua língua materna, mesmo com exposição a dados linguísticos fragmentados e inconsistentes, indica a existência de uma estrutura mental predefinida, a Gramática Universal (GU). Esta GU não é um conjunto de regras específicas de uma língua particular, como o português ou o inglês, mas sim um conjunto de princípios e parâmetros universais que constituem a base para o desenvolvimento de qualquer língua humana. Imagine-a como um “software” básico instalado no cérebro, pronto para ser configurado de acordo com a língua específica à qual a criança é exposta.
O conceito-chave na teoria de Chomsky é a recursão. A GU nos equipa com a capacidade de combinar unidades linguísticas menores em unidades maiores, e estas em unidades ainda maiores, de forma infinita. Essa capacidade recursiva permite a geração de um número ilimitado de sentenças gramaticalmente corretas, mesmo com um vocabulário finito. É a recursão que nos permite, por exemplo, criar frases complexas como “A menina que encontrou o gato que perseguia o rato que roubou o queijo disse que estava com fome”. A estrutura hierárquica e recursiva das frases, segundo Chomsky, é fundamental para a sintaxe humana e é inerente à GU.
A crítica central de Chomsky às teorias comportamentalistas se baseia na pobreza do estímulo. As crianças são expostas a um input linguístico incompleto, repleto de erros, interrupções e frases inacabadas. A informação disponibilizada pela interação com os adultos, sozinha, seria insuficiente para explicar a velocidade e a precisão com que as crianças adquirem sua língua nativa. A GU, portanto, preenche as lacunas, fornecendo o arcabouço necessário para a construção de um sistema linguístico complexo a partir de dados incompletos.
Chomsky não afirma que a GU determina completamente a língua que uma criança falará. Os parâmetros da GU são “configurados” pela exposição à língua específica do ambiente. Assim, uma criança exposta ao português terá sua GU configurada para as regras específicas do português, enquanto uma criança exposta ao inglês terá sua GU configurada para as regras do inglês. Essa interação entre a GU inata e o input linguístico ambiental é crucial para a aquisição da linguagem.
A teoria da Gramática Universal, apesar de amplamente aceita e influente, também enfrenta críticas. Algumas questionam a capacidade da GU em explicar a diversidade das línguas humanas e a influência de fatores sociais e culturais na aquisição da linguagem. No entanto, a proposta chomskiana permanece uma contribuição fundamental para nossa compreensão da faculdade da linguagem, destacando a natureza inata e a complexidade computacional da mente humana. A busca por uma explicação completa da aquisição da linguagem continua, mas a contribuição de Chomsky estabeleceu um marco inegável nessa jornada.
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