Como são classificados os desvios?

Desvendando a Classificação dos Desvios Gramaticais: Uma Abordagem Analítica

A gramática normativa estabelece padrões para a construção de frases corretas e coerentes. No entanto, o uso da língua é dinâmico e sujeito a variações, o que muitas vezes resulta em desvios dessas normas. Compreender como esses desvios são classificados é fundamental para a análise linguística e para a produção de textos mais precisos e eficazes. Este artigo propõe uma análise da classificação dos desvios gramaticais, focando na sua estrutura e nuances, indo além da simples categorização.

Tradicionalmente, a classificação dos desvios gramaticais se concentra em três grandes áreas: concordância, regência e colocação pronominal. Embora essa divisão seja útil, é importante lembrar que, muitas vezes, os desvios se interconectam e podem apresentar características de mais de uma categoria.

1. Desvios de Concordância:

A concordância, seja verbal ou nominal, estabelece a harmonia entre as palavras numa frase, garantindo a coerência gramatical. Os desvios de concordância ocorrem quando essa harmonia é quebrada.

• Concordância Verbal: Refere-se à concordância entre o verbo e o sujeito da oração. Desvios comuns incluem:

  • Concordância com o núcleo mais próximo: “A maioria dos alunos foram aprovados.” (correto: foi aprovado)
  • Concordância com o número do sujeito: “Eu e minha irmã viajamos muito.” (correto: viajamos)
  • Concordância com o coletivo: “A multidão aplaudiu o artista.” (pode haver variação para plural dependendo do contexto: aplaudiram)
  • Concordância ideológica ou silepse: Ocorre quando a concordância se dá com a ideia subentendida, e não com a forma gramatical do sujeito. “O povo, enfurecidos, invadiu o palácio.” (o correto seria: enfurecido)

• Concordância Nominal: Refere-se à concordância entre o substantivo e seus determinantes (adjetivos, artigos, pronomes, numerais). Desvios comuns são:

  • Concordância com o núcleo mais próximo: “Comprei um livro e uma revista novos.” (correto: novo)
  • Concordância com o substantivo mais próximo: “A casa e o carro azul estava impecável.” (correto: estavam impecáveis)
  • Concordância atrativa: A concordância é feita com um termo mais próximo, mesmo que este não seja o núcleo da frase. “O resultado da pesquisa e os dados obtidos foram animadores.” (a concordância ideal é no plural, mesmo que “resultado” esteja mais próximo)

2. Desvios de Regência:

A regência trata das relações de dependência entre as palavras numa frase, especificamente, entre o verbo ou nome e seus complementos. Desvios de regência ocorrem quando essas relações não são respeitadas.

• Regência Verbal: Concerne à relação entre o verbo e seu complemento (objeto direto ou indireto). Exemplos:

  • “Assisti ao filme.” (correto, exige preposição) vs. “Assisti o filme.” (incorreto)
  • “Esquecer-se de algo” (correto) vs “Esquecer algo” (incorreto, embora muitas vezes usado informalmente)

• Regência Nominal: Refere-se à relação entre um nome (substantivo, adjetivo ou advérbio) e seu complemento. Exemplos:

  • “Aquele aluno é adepto a esportes radicais.” (correto) vs. “Aquele aluno é adepto de esportes radicais.” (incorreto)
  • “Ele tem acesso às informações.” (correto) vs. “Ele tem acesso as informações.” (incorreto)

3. Desvios de Colocação Pronominal:

A colocação pronominal trata da posição do pronome em relação ao verbo. A gramática normativa define três tipos principais: próclise (pronome antes do verbo), mesóclise (pronome no meio do verbo) e ênclise (pronome depois do verbo). Os desvios ocorrem quando a colocação não segue as regras gramaticais, considerando a presença de fatores como advérbios, conjunções, pronomes relativos e orações subordinadas. A análise dos desvios precisa considerar o contexto e as regras de cada caso.

Em suma, a classificação dos desvios gramaticais é um instrumento crucial para a análise e aprimoramento da escrita. Compreender a natureza desses desvios, suas diferentes categorias e suas nuances, permite uma abordagem mais completa e sofisticada do estudo da língua portuguesa. A análise não se limita à simples identificação do erro, mas busca também entender as causas e as implicações desses desvios na comunicação.