É correto dizer vou ir?

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Sim, as expressões vou ir e irei passar estão corretas. Apesar de incomuns, elas são aceitas gramaticalmente e aparecem em vários registros linguísticos.

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“Vou Ir” e “Irei Passar”: O Duelo da Expressão e a Aceitação Linguística

A língua portuguesa, com sua riqueza e nuances, frequentemente nos coloca diante de questionamentos sobre o que é “certo” e o que é “errado”. Uma dessas questões, que volta e meia surge em conversas e debates, é a validade das expressões “vou ir” e “irei passar”. A resposta, como em muitos casos da linguística, é: depende.

A Polêmica da Redundância:

A principal crítica a “vou ir” reside na aparente redundância. Afinal, o verbo “ir” já carrega em si a ideia de movimento futuro. A construção “vou” (do verbo “ir” no futuro do pretérito) somada ao “ir” parece, à primeira vista, um pleonasmo vicioso. Da mesma forma, “irei passar” pode parecer redundante se a ideia de “passar” já estiver implícita no contexto.

A Aceitação na Prática:

Contudo, a língua é um organismo vivo e em constante transformação. A gramática normativa, embora importante, nem sempre consegue capturar toda a complexidade do uso real da língua. E é nesse ponto que “vou ir” e “irei passar” encontram sua defesa.

Apesar de não serem consideradas as formas mais elegantes ou recomendadas em situações formais, essas expressões são amplamente utilizadas na fala cotidiana, em contextos informais e até mesmo em textos literários. A razão para isso reside, em grande parte, na necessidade de ênfase e clareza.

Por que as pessoas usam “Vou Ir”?

  • Ênfase: Em alguns casos, a repetição do verbo “ir” serve para enfatizar a intenção de realizar a ação no futuro. A pessoa quer deixar claro que definitivamente irá a algum lugar.
  • Clareza: Em determinadas situações, o contexto pode exigir uma explicitação maior da ação. “Vou ir” pode ser usado para evitar ambiguidades, especialmente em conversas rápidas e informais.
  • Habito Linguístico: Muitas vezes, o uso de “vou ir” é simplesmente um hábito linguístico arraigado, influenciado pela região, grupo social e outros fatores.

“Irei Passar”: Uma Nuance Semântica:

A expressão “irei passar” é um pouco diferente. Ela não é tão estigmatizada quanto “vou ir”, pois o verbo “passar” pode ter diversos significados. A redundância só ocorre se o contexto já subentende a ideia de “passar”. Por exemplo, se alguém diz “Amanhã irei passar na sua casa”, pode ser interpretado como redundante, pois o verbo “ir” já implica o deslocamento. No entanto, em frases como “Irei passar por dificuldades”, a expressão é perfeitamente aceitável.

A Importância do Contexto:

Em resumo, tanto “vou ir” quanto “irei passar” não são intrinsecamente erradas. A adequação dessas expressões depende do contexto, da formalidade da situação e da intenção do falante. Em contextos informais, elas são amplamente aceitas e compreendidas. Em situações formais, é preferível optar por construções mais elegantes e concisas, como “irei” ou “passarei”.

Em Conclusão:

A língua portuguesa é flexível e dinâmica. A norma culta oferece um guia, mas o uso real da língua, com suas variações e nuances, é o que a mantém viva. “Vou ir” e “irei passar” são exemplos de como a necessidade de ênfase, clareza e hábito linguístico podem influenciar a forma como nos comunicamos, mesmo que, à primeira vista, pareçam desafiar as regras gramaticais. O importante é estar ciente das diferentes possibilidades e escolher a forma mais adequada para cada situação. A beleza da língua reside justamente nessa capacidade de adaptação e expressão individual.