O que é disgrafia emocional?

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A disgrafia emocional é um transtorno funcional que dificulta a escrita fluente, afetando a qualidade do texto. Normalmente associada a problemas psicomotores, ela ocorre em crianças sem comprometimentos cognitivos ou emocionais.

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Desvendando a Disgrafia Emocional: Um Mito ou uma Realidade?

A afirmação de que existe uma “disgrafia emocional”, definida como um transtorno funcional que dificulta a escrita fluente e afeta a qualidade do texto apenas em crianças sem comprometimentos cognitivos ou emocionais, é, na verdade, um equívoco. Não existe, na literatura científica especializada em neurodesenvolvimento e dificuldades de aprendizagem, um diagnóstico formal reconhecido como “disgrafia emocional”. A dificuldade de escrita, frequentemente atribuída a essa designação informal, na realidade, é um sintoma que pode ter diversas origens, e raramente existe de forma isolada.

A escrita envolve uma complexa interação de habilidades: motricidade fina, planejamento espacial, processamento fonológico, memória de trabalho e, crucialmente, aspectos emocionais e cognitivos. Dificuldades na escrita podem surgir em decorrência de problemas em qualquer uma dessas áreas. Atribuir o problema exclusivamente à esfera emocional, omitindo outros fatores, simplifica excessivamente um quadro clínico que costuma ser multifatorial.

Um aluno que apresenta dificuldades de escrita pode, de fato, estar vivenciando dificuldades emocionais que influenciam seu desempenho. Ansiedade, baixa autoestima, medo do fracasso ou até mesmo situações de estresse familiar podem impactar negativamente sua capacidade de se concentrar, afetando a qualidade da letra, a velocidade da escrita e a organização textual. No entanto, esses fatores emocionais são concomitantes a outras possíveis causas da disgrafia, e não a causa única.

Em vez de “disgrafia emocional”, é mais preciso analisar as dificuldades de escrita a partir de uma perspectiva holística. A avaliação deve contemplar:

  • Avaliação psicomotora: Verifica a coordenação motora fina, a lateralidade, o tônus muscular e a propriocepção (consciência corporal).
  • Avaliação neuropsicológica: Investiga as funções cognitivas como memória, atenção, processamento da linguagem e funções executivas.
  • Avaliação emocional e comportamental: Identifica possíveis transtornos de ansiedade, depressão, ou outros problemas emocionais que possam estar interferindo no processo de escrita.
  • Avaliação pedagógica: Analisa o aprendizado da escrita, as estratégias utilizadas e os métodos de ensino empregados.

Somente após uma avaliação completa e multidisciplinar é possível identificar as causas subjacentes às dificuldades de escrita e propor intervenções adequadas. Intervenções que podem incluir terapia ocupacional, fonoaudiologia, psicoterapia e estratégias pedagógicas específicas, dependendo da necessidade individual de cada criança.

Em suma, a busca por rótulos simplificadores como “disgrafia emocional” pode obscurecer a complexidade do problema e prejudicar a busca por soluções efetivas. Um enfoque multidisciplinar e uma avaliação abrangente são fundamentais para compreender e tratar as dificuldades de escrita em crianças, considerando a interação entre fatores neurológicos, cognitivos e emocionais.