O que é língua primeira?

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A Língua Materna, ou Primeira Língua (L1), geralmente é aquela que internalizamos primeiro, tipicamente no ambiente familiar com nossos pais. Frequentemente, coincide com a língua falada na comunidade onde crescemos. Contudo, é importante notar que a L1 não se restringe à língua da mãe nem à ordem cronológica do aprendizado, podendo até envolver mais de um idioma.

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Além dos Laços Familiares: Desvendando a Língua Primeira (L1)

A ideia de Língua Materna, ou Primeira Língua (L1), evoca imediatamente a imagem do colo materno, das cantigas de ninar e das primeiras palavras balbuciadas na infância. De fato, a L1 costuma ser a língua que absorvemos nos primeiros anos de vida, geralmente no contexto familiar. Muitas vezes, essa língua coincide com a predominante na comunidade em que crescemos, reforçando a associação entre ambiente e aprendizado linguístico. Entretanto, definir a L1 apenas como a “língua da mãe” ou pela ordem de aquisição pode ser uma simplificação que ignora a complexidade da experiência humana. Afinal, a L1 é muito mais do que a cronologia da aprendizagem; ela é a base da nossa estrutura cognitiva linguística, a lente através da qual começamos a interpretar o mundo.

É fundamental desmistificar a ideia de que a L1 está intrinsecamente ligada à figura materna. Em famílias bilíngues ou multilíngues, por exemplo, a criança pode ser exposta a diferentes idiomas desde o nascimento, internalizando-os simultaneamente. Nesse caso, ambas (ou todas) as línguas podem ser consideradas L1, configurando o que chamamos de bilinguismo ou multilinguismo nativo. Imagine uma criança criada por pais que falam línguas diferentes, ou uma família imigrante que mantém o idioma de origem em casa enquanto a criança aprende a língua do novo país na escola. Nesses cenários, a criança desenvolve múltiplas L1s, demonstrando a plasticidade do cérebro infantil para a aquisição linguística.

Além disso, a ordem cronológica de aprendizado não é o único fator determinante da L1. Existem casos em que uma criança aprende uma segunda língua (L2) precocemente e com tanta intensidade que ela se torna dominante, às vezes até suplantando a língua inicialmente adquirida em termos de fluência e uso. Em situações extremas, pode ocorrer o que se chama de “perda da primeira língua”, onde a L2 se torna, na prática, a L1 funcional do indivíduo. Isso demonstra que a L1 não é um status imutável, mas sim um conceito dinâmico que pode ser influenciado por fatores sociais, culturais e afetivos.

Portanto, ao invés de restringir a definição de L1 à origem familiar ou à ordem de aprendizado, é mais preciso entendê-la como a língua (ou línguas) que molda(m) a nossa base linguística, aquela(s) com a qual(is) desenvolvemos uma conexão cognitiva e emocional profunda. Essa compreensão mais ampla nos permite reconhecer a diversidade linguística e as diferentes trajetórias de aquisição, valorizando a riqueza e a complexidade da comunicação humana.