Quais são as características de um narrador?

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Características dos Narradores:

  • Narrador personagem: Participa da história, narrando-a em primeira pessoa.
  • Narrador observador: Apenas descreve os acontecimentos, sem participar, usando a terceira pessoa.
  • Narrador onisciente: Conhece todos os personagens e fatos, narrando em terceira pessoa.
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Além da Pessoa Gramatical: Desvendando as Nuances do Narrador em uma Narrativa

A escolha do narrador é um elemento fundamental na construção de uma narrativa, influenciando diretamente a forma como a história é apresentada e percebida pelo leitor. Embora a classificação tradicional em narrador de primeira, segunda e terceira pessoa seja útil como ponto de partida, ela se mostra insuficiente para abarcar a riqueza e complexidade que a figura do narrador pode assumir. Ir além da simples identificação da pessoa gramatical e explorar as características intrínsecas ao narrador revela uma dimensão crucial da arte da escrita.

A ideia de um narrador meramente como uma voz que relata os fatos é simplista. Na verdade, o narrador é um personagem em si, com suas próprias características, limitações e perspectivas. Essas características moldam o que o leitor vê e como interpreta a história. Vamos, então, explorar alguns aspectos que vão além da simples classificação por pessoa gramatical:

1. Nível de Conhecimento e Envolvimento:

A distinção entre narrador observador, narrador personagem e narrador onisciente, embora útil, precisa ser matizada. Um narrador observador, por exemplo, pode ter um grau maior ou menor de acesso à subjetividade dos personagens. Pode descrever apenas ações externas, ou apresentar reflexões e pensamentos de alguns personagens específicos, sem, contudo, participar diretamente da ação. Já o narrador onisciente, mesmo tendo acesso total à informação, pode optar por revelar ou ocultar detalhes, influenciando a compreensão do leitor. Podemos, ainda, falar de um narrador onisciente seletivo, que se concentra em certos personagens e suas experiências, deixando outros na penumbra.

2. Tom e Estilo Narrativo:

A voz do narrador é tão importante quanto sua posição na história. Um narrador pode ser irônico, sarcástico, sentimental, objetivo, formal ou informal. Seu estilo, que envolve a escolha de vocabulário, ritmo, sintaxe e recursos estilísticos, contribui para a construção de um determinado efeito no leitor. Um narrador formal, por exemplo, pode criar uma atmosfera de seriedade e distanciamento, enquanto um narrador informal pode promover uma proximidade maior com o leitor, criando um efeito de confidencialidade.

3. Confiabilidade do Narrador:

A questão da confiabilidade é crucial. Um narrador pode ser confiável, apresentando informações objetivas e coerentes, ou pode ser tendencioso, omitindo detalhes ou manipulando informações para atingir um propósito específico. Um narrador não-confiável pode, inclusive, ser o elemento central de uma narrativa complexa e intrigante, desafiando o leitor a questionar a veracidade do que é apresentado. A percepção de confiabilidade não se limita apenas ao narrador-personagem, pois mesmo um narrador onisciente pode escolher quais informações apresentar ou destacar, influenciando a percepção do leitor sobre os acontecimentos.

4. Relação com o Leitor:

O narrador estabelece uma relação com o leitor, que pode ser direta ou indireta, formal ou informal. Alguns narradores se dirigem explicitamente ao leitor, criando um diálogo e uma sensação de cumplicidade. Outros permanecem distantes, limitando-se a relatar os fatos sem interagir diretamente com o público. Esta escolha também contribui para a construção do sentido da narrativa e para a experiência de leitura.

Em resumo, o narrador é muito mais do que uma simples ferramenta para contar uma história. É um agente ativo na construção do significado, capaz de moldar a percepção do leitor e enriquecer a experiência de leitura. Analisar suas características, para além da classificação básica, permite uma compreensão mais profunda e sofisticada da narrativa como um todo.