Quais são os tipos de preconceitos linguísticos?

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O preconceito linguístico manifesta-se ao menosprezar sotaques, julgar o português de Portugal superior ao brasileiro, debochar de gírias, corrigir a pronúncia, considerar antigas formas linguísticas mais corretas e discriminar linguagem online abreviada.

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Os Tipos de Preconceito Linguístico: Mais Além da Superfície

O preconceito linguístico, embora frequentemente associado à discriminação de sotaques e gírias, é um fenômeno mais complexo e abrangente do que se imagina. Não se resume a simples preferências pessoais, mas sim a uma série de julgamentos e hierarquizações que afetam profundamente a forma como percebemos e valorizamos diferentes variedades do português. Para além da superfície, encontramos diversos tipos de preconceito, cada um com suas nuances e consequências.

Hierarquização de variedades: Um dos tipos mais perceptíveis é a hierarquização de variedades linguísticas. A ideia de um “português correto” muitas vezes se sobrepõe a outras formas de expressão, levando ao menosprezo de dialetos regionais, sotaques específicos e até mesmo do português falado em diferentes países. O “português de Portugal” frequentemente é considerado superior ao brasileiro, ignorando a riqueza e a legitimidade de cada variante. Essa hierarquização não se limita à oralidade; abarca também a escrita, com a preferência por estruturas gramaticais “tradicionais” e o julgamento de diferentes estilos.

Julgamento de gírias e linguagens informais: A utilização de gírias, abreviações e outras linguagens informais é frequentemente alvo de preconceito. A aparente “simplicidade” dessas formas de comunicação é vista como sinal de ignorância ou falta de educação. Essas linguagens, no entanto, são adaptáveis às necessidades comunicativas de diferentes grupos e refletem a evolução natural da língua, enriquecendo-a com a dinâmica social. Ignorar essas formas linguísticas é negar a vitalidade do idioma e a capacidade de expressão de diferentes grupos sociais.

Preconceito baseado em registros linguísticos: Não se deve esquecer a discriminação baseada em diferentes registros linguísticos. O português formal, muitas vezes associado a contextos acadêmicos ou profissionais, pode ser valorizado acima de registros informais e coloquiais, usados em contextos pessoais e cotidianos. Essa hierarquização ignora a importância e a adequação de cada registro a seu contexto específico, reforçando a noção de que certas formas linguísticas são mais “elegantes” ou “importantes” do que outras.

Discriminação online: O ambiente online, repleto de abreviações, emojis e outras formas de comunicação rápida, é um terreno fértil para o preconceito linguístico. Linguagens curtas e informativas, amplamente utilizadas na internet, são frequentemente condenadas por suposta “falta de formalidade” ou “mau uso da língua”. Essa postura ignora o fato de que a linguagem online desenvolveu suas próprias regras e convenções, adaptando-se à rapidez e às necessidades do meio digital.

Corrigir a pronúncia e formas de expressão: A atitude de corrigir a pronúncia, a gramática ou o vocabulário de alguém, com o intuito de “melhorá-lo”, é um tipo de preconceito profundamente enraizado. Essas correções, muitas vezes sem um propósito de aprendizado genuíno, refletem uma postura de superioridade e desrespeitam a identidade linguística dos falantes. A língua é dinâmica e evolui, e a busca pela “correção” absoluta impede a liberdade de expressão e o reconhecimento da diversidade.

Em suma, o preconceito linguístico é um fenômeno multifacetado que se manifesta através da hierarquização de variedades, julgamento de gírias, distinção entre registros, discriminação online e correções infundadas. Compreender a complexidade desses tipos é fundamental para combater essa forma de discriminação e promover a valorização da diversidade linguística, reconhecendo a riqueza e a legitimidade de todas as formas de comunicação.