Qual é o particípio passado do verbo ser?

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De acordo com Rebelo Gonçalves em seu Vocabulário de 1966, o verbo ser possui o particípio passado sido. Contudo, sua utilização é restrita aos tempos compostos, sendo invariável. Importante ressaltar que, por ser um verbo copulativo, ser não admite a formação de um particípio passado na voz passiva.

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O Particípio Passado do Verbo “Ser”: Mais Nuances do que Simplesmente “Sido”

Embora a gramática tradicional nos apresente “sido” como o particípio passado do verbo “ser”, a questão é um pouco mais complexa e merece uma análise mais aprofundada, para além da mera repetição do que já se encontra facilmente na internet. O texto de Rebelo Gonçalves, como bem apontado, serve como um ponto de partida, mas vamos explorar as particularidades e limitações desse particípio, bem como as alternativas que a língua portuguesa nos oferece.

“Sido”: Uma Existência Restrita aos Tempos Compostos

A afirmação de que “sido” é o particípio passado do verbo “ser” é correta, porém incompleta. Sua utilização é, de fato, quase que exclusivamente confinada aos tempos verbais compostos. Observemos alguns exemplos:

  • “O relatório tem sido constantemente atualizado.”
  • “Se tivéssemos sido mais cuidadosos, o erro não teria acontecido.”

Nesses casos, “sido” funciona como auxiliar na formação do tempo composto, acompanhando um verbo principal (atualizado, cuidadosos). A invariabilidade mencionada por Gonçalves é crucial: “sido” nunca se flexiona em gênero ou número, diferentemente dos particípios de outros verbos.

A Voz Passiva e a Natureza Copulativa do “Ser”

A restrição do uso de “sido” se acentua quando consideramos a voz passiva. Verbos copulativos, como “ser”, ligam o sujeito a uma característica ou estado, não expressando uma ação que recai sobre o sujeito. Por isso, a construção passiva com o verbo “ser” e um particípio passado, no sentido tradicional de receber uma ação, é geralmente evitada.

Imagine a frase: “A carta foi sida pelo carteiro.” Essa construção soa estranha e gramaticalmente inadequada. Isso porque a carta não “sofreu” a ação de “ser”.

Alternativas e Estratégias para Expressar o Passado do “Ser”

Diante da limitação de “sido” em diversas situações, a língua portuguesa oferece alternativas e estratégias para expressar o passado do verbo “ser” de maneira mais natural e expressiva.

  • Substituição por outros verbos: Em muitos casos, o verbo “ser” pode ser substituído por verbos que expressem uma ação ou estado mais específico, permitindo o uso de seus respectivos particípios passados. Por exemplo: em vez de “O problema foi sido resolvido“, podemos dizer “O problema foi solucionado ou “O problema foi dirimido.

  • Reestruturação da frase: A reformulação da frase pode evitar a necessidade do particípio passado do verbo “ser”. Por exemplo: em vez de “A decisão tem sido controversa“, podemos dizer “A decisão tem causado controvérsia” ou “A decisão é controversa há algum tempo“.

  • Uso de adjetivos: Em situações que descrevem um estado ou característica passada, adjetivos podem ser utilizados em conjunto com o verbo “estar”, que possui um particípio passado mais flexível (“estado”). Por exemplo: “O documento foi considerado válido” (em vez de “O documento foi sido considerado válido“).

Conclusão: Flexibilidade e Adequação

Apesar da existência formal de “sido” como particípio passado do verbo “ser”, sua aplicação prática é limitada e exige cautela. Entender as nuances da voz passiva, a natureza copulativa do verbo “ser” e explorar as alternativas oferecidas pela língua portuguesa são cruciais para uma comunicação clara e eficaz. Em vez de nos apegarmos rigidamente a uma regra gramatical, devemos buscar a construção frasal que melhor expresse a ideia que queremos transmitir, utilizando as ferramentas que a língua nos oferece com criatividade e adequação. A escolha da melhor forma de expressar o passado do verbo “ser” dependerá, em última análise, do contexto e da intenção comunicativa.