Qual o português mais correto, Brasil ou Portugal?

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A ideia de um português mais correto, seja do Brasil ou de Portugal, é um mito. Não existe superioridade linguística entre variantes. A correção de uma língua reside em sua efetividade comunicativa dentro de sua comunidade de falantes. Até mesmo a crença de que o português mais correto estaria localizado no Maranhão é infundada, segundo o linguista Marcos Bagno. Toda variedade é válida.

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O Mito da “Correção” Linguística: Brasil x Portugal

A pergunta “Qual o português mais correto, Brasil ou Portugal?” é um equívoco profundamente arraigado em nossa cultura. A ideia de uma variante superior, seja a brasileira ou a portuguesa, é um mito persistente que precisa ser desmistificado. Não existe um português “mais correto” em sentido absoluto, pois a correção gramatical não reside em uma norma única e imutável, mas na adequação da linguagem ao contexto e à sua capacidade de comunicação eficaz.

A língua portuguesa, como qualquer língua viva, é dinâmica e heterogênea. Sua evolução natural gerou diversas variantes, com características fonéticas, lexicais, morfológicas e sintáticas distintas, tanto no Brasil como em Portugal, e também dentro de cada um desses países. A variação linguística é inerente à própria natureza das línguas e reflete a diversidade cultural e social de seus falantes. Assim, o português brasileiro e o português europeu são variantes legítimas, igualmente válidas e capazes de cumprir sua função primordial: a comunicação.

Atribuir uma superioridade a uma variante sobre outra é um ato de preconceito linguístico, que desconsidera a riqueza e a complexidade da língua portuguesa em sua totalidade. Afirmar que o português de Portugal, por exemplo, é o “português original” ou “mais puro” ignora a evolução natural e independente da língua em diferentes contextos geográficos e socioculturais. O português brasileiro, por sua vez, desenvolveu suas próprias peculiaridades, enriquecendo a língua com novas expressões, estruturas e adaptações ao seu ambiente.

A busca por um português “padrão” universal, muitas vezes associado a um manual gramatical específico ou a uma determinada região, é uma simplificação equivocada. A norma culta, muitas vezes vista como a referência de “correção”, é apenas uma variedade linguística entre muitas, privilegiada por sua utilização em contextos formais e pela sua difusão na educação formal. No entanto, essa norma não anula a legitimidade de outras variantes, que se mostram adequadas em diferentes contextos comunicativos.

A pretensão de eleger um “português mais correto” em qualquer lugar, inclusive no Maranhão, como equivocadamente se afirma em algumas discussões, revela um desconhecimento da ciência linguística. Não existe um centro de pureza linguística, e a variação regional é parte integrante da vitalidade e da riqueza da língua portuguesa.

Em resumo, a avaliação da “correção” do português deve considerar o contexto de uso. Uma linguagem informal e coloquial, repleta de gírias e regionalismos, pode ser perfeitamente correta e eficaz em uma conversa entre amigos. Já em um documento oficial, um discurso formal, será necessário o uso de um português mais próximo da norma culta. O importante é a clareza, a precisão e a eficácia da comunicação, não a adesão a um padrão arbitrariamente definido como superior. A verdadeira riqueza da língua portuguesa reside em sua diversidade e em sua capacidade de se adaptar e evoluir ao longo do tempo e nos diferentes espaços geográficos e sociais.