Quando se coloca o pronome antes do verbo?

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A próclise, ou seja, o uso do pronome antes do verbo, é obrigatória quando há palavras que atraem o pronome. São elas: palavras negativas (nunca, não), conjunções subordinativas (se, embora) e pronomes relativos (que, qual). Nesses casos, a norma culta da língua portuguesa exige a colocação pronominal antes do verbo, visando à correção gramatical.

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A Próclise: Quando o Pronome Antecede o Verbo em Português

A colocação pronominal é um dos aspectos da gramática portuguesa que mais geram dúvidas. Enquanto a ênclise (pronome depois do verbo) e a mesóclise (pronome no meio do verbo) têm suas regras específicas, a próclise – a colocação do pronome antes do verbo – apresenta nuances que merecem ser exploradas além da simples afirmação de sua obrigatoriedade em certos contextos. Este artigo busca esclarecer esses nuances, indo além da abordagem superficial frequentemente encontrada.

Sim, a próclise é obrigatória na presença de palavras atrativas, como frequentemente se afirma. Essas palavras, que exercem uma força de atração sobre o pronome oblíquo átono, criam um ambiente gramatical que obriga a colocação pronominal antes do verbo. As mais conhecidas são:

  • Palavras negativas: não, nunca, ninguém, nada, nenhum, etc. A negativa intrínseca a essas palavras demanda a próclise. Ex: Não me disseram a verdade. A ênclise (Não disseram-me a verdade) seria considerada incorreta pela norma culta.

  • Conjunções subordinativas: que, se, quando, embora, apesar de, como, etc. A dependência sintática que estas conjunções estabelecem entre orações exige a próclise. Ex: Embora me esforçasse, não consegui. Novamente, a ênclise seria inadequada. É importante notar a distinção: conjunções coordenativas (e, mas, ou) não atraem o pronome.

  • Pronomes relativos: que, quem, qual, cujo, etc. A natureza anafórica (referência a um termo anterior) destes pronomes exige a próclise. Ex: A pessoa que me ajudou era muito gentil.

  • Pronomes indefinidos: alguém, ninguém, tudo, nada, outrem, etc. A indeterminação inerente a esses pronomes tende a atrair a próclise. Ex: Alguém me ligou mais cedo.

  • Advérbios: Geralmente, os advérbios também atraem a próclise. Ex: Aqui se vive bem. Entretanto, é crucial observar que essa atração não é tão forte quanto a das palavras negativas ou conjunções subordinativas. A ênclise, em alguns casos com advérbios, pode ser aceitável dependendo do contexto e da ênfase desejada.

  • Orações Interrogativas: Em orações interrogativas, a próclise é a forma mais comum e natural, especialmente em início de frase. Ex: Quem te contou isso?

Mas a Próclise não é somente obrigatória: Em muitas outras situações, a próclise é preferível, mesmo sem a presença de palavras atrativas, por questões de eufonia, elegância e naturalidade da frase. A colocação do pronome antes do verbo torna a frase mais fluida em muitos contextos, principalmente em frases longas ou complexas.

Concluindo, a próclise, apesar de muitas vezes ser apresentada como simplesmente “obrigatória” em certos casos, apresenta uma complexidade que exige uma análise mais profunda do contexto frasal. A memorização da lista de palavras atrativas é um bom começo, mas a sensibilidade para a eufonia e a fluidez da frase são essenciais para o domínio da colocação pronominal. A prática da leitura e da escrita cuidadosas contribui significativamente para o aprimoramento dessa habilidade linguística.