O que é a linguagem calão?

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Calão é uma linguagem informal, muitas vezes grosseira e ofensiva, usada em contextos específicos. Seu uso varia de região para região e grupo social.

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Desvendando o Calão: Mais do que Gírias, uma Linguagem de Grupos

A língua portuguesa, como qualquer outra, apresenta uma riqueza de variações e níveis de formalidade. Entre elas, destaca-se o calão, um universo linguístico muitas vezes mal compreendido, frequentemente associado apenas à grosseria e à ofensa. No entanto, o calão é um fenômeno bem mais complexo, carregado de significado social e cultural, que transcende a simples utilização de palavras “feias”.

Diferente de gírias, que são expressões informais compreensíveis por um público mais amplo, o calão geralmente se caracteriza por um vocabulário mais restrito, utilizado por grupos específicos e frequentemente incompreensível para quem não pertence a esses círculos. Sua função primordial, muitas vezes, não é apenas a comunicação, mas também a construção e a manutenção da identidade grupal. Imagine um grupo de soldados, marinheiros ou profissionais de uma área específica: o calão funciona como uma senha, um código que identifica os membros do grupo e os diferencia dos “de fora”.

A imprecisão na definição de calão reside na sua natureza fluida e contextual. O que pode ser considerado calão em um grupo ou região, pode ser linguagem corrente em outro. O mesmo termo pode possuir conotações distintas dependendo do contexto e da intenção do falante. Uma palavra aparentemente inofensiva, usada em um contexto específico, pode adquirir um significado altamente chulo e ofensivo.

Outro aspecto importante é a sua relação com o poder e a transgressão. Frequentemente, o calão é utilizado para desafiar normas sociais estabelecidas e expressar rebeldia, desconfiança ou crítica. Utilizar palavras consideradas tabu pode ser uma forma de subverter a ordem linguística e, por extensão, a ordem social. Essa característica de transgressão, contudo, não deve ser confundida com a simples intenção de ofender.

A natureza efêmera do calão também é notável. Termos e expressões podem surgir e desaparecer rapidamente, reflectindo a dinâmica das relações sociais e a evolução cultural. O que era calão em uma década pode se tornar obsoleto ou até mesmo incorporado à linguagem coloquial na seguinte.

Em resumo, o calão não se resume a um conjunto aleatório de palavrões. É um sistema linguístico complexo, com regras próprias, que desempenha funções sociais e culturais relevantes, revelando aspectos da identidade, do poder e da transgressão nos grupos que o utilizam. Seu estudo exige sensibilidade e uma abordagem contextualizada, evitando generalizações e preconceitos que reduzem sua riqueza e complexidade a um simples rótulo de “linguagem grosseira”. Ele é, antes de tudo, um espelho da sociedade em seus múltiplos e dinâmicos aspectos.