Quando a palavra mais é substantivo?

A face menos conhecida de “mais”: quando a palavra funciona como substantivo

A palavra “mais” é um camaleão gramatical. Sua versatilidade a permite atuar como advérbio, conjunção, preposição, pronome indefinido e, menos comumente conhecido, como substantivo. Enquanto a maioria se familiariza com seu uso para intensificar adjetivos (“mais bonito”), indicar adição (“quero mais bolo”) ou comparar (“mais alto que”), sua função nominal muitas vezes passa despercebida.

Neste artigo, vamos explorar especificamente a ocorrência de “mais” como substantivo, focando em sua semântica e em exemplos que elucidam seu emprego nesse contexto pouco usual.

A função substantiva de “mais” surge quando a palavra se refere aos elementos restantes de um conjunto, aos outros indivíduos ou coisas que não foram mencionados anteriormente. Ela indica uma parcela complementar, um excedente. Nesse caso, “mais” não expressa uma quantidade superior, mas sim a ideia de “os demais”, “o resto”, “os restantes”. A ausência de um artigo definido ou indefinido antes da palavra reforça essa interpretação substantiva.

Observe os exemplos a seguir:

• “Uns poucos compareceram à reunião; os mais, faltaram.” Neste caso, “os mais” substitui a expressão “os outros”, “os restantes” ou “o restante”. Refere-se à parte do grupo que não compareceu.

• “Dois alunos foram aprovados na primeira chamada; os mais, na segunda.” Novamente, “os mais” indica o grupo restante dos alunos, aqueles que passaram na segunda chamada.

• “Distribuiu os doces para as crianças; os mais ficaram para depois.” Aqui, “os mais” representa os doces que sobraram, aqueles que não foram distribuídos imediatamente.

Note que, nesses exemplos, “mais” não se refere a uma quantidade superior, mas a um grupo complementar, a uma parte não especificada anteriormente. A palavra assume a função de um substantivo plural, concordando em gênero e número com o verbo e o artigo (quando presente).

A distinção entre o “mais” substantivo e o “mais” com outras funções pode parecer sutil, mas reside na ausência de uma relação direta de comparação ou intensificação. No caso do substantivo, ele representa um conjunto residual, uma parte não explicitada previamente.

Em suma, a compreensão da função substantiva de “mais” exige atenção à semântica do contexto. Ao identificar a referência a um conjunto residual, a um grupo complementar, podemos afirmar com segurança que a palavra “mais” desempenha a função de um substantivo, enriquecendo a riqueza e a sutileza da língua portuguesa.