Qual a regra da norma culta?

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A norma culta do português brasileiro é um conjunto de regras gramaticais que orientam a escrita e a fala formal, geralmente utilizada por pessoas com maior escolaridade e acesso à cultura. Ela se baseia na tradição literária e nos usos consagrados por escritores e intelectuais.

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A Evasão da Regra: Desvendando a Relatividade da Norma Culta na Língua Portuguesa Brasileira

A afirmação de que existe uma “regra” única para a norma culta da língua portuguesa brasileira é, em si, uma simplificação problemática. Em vez de uma regra fixa e imutável, é mais preciso falar em um conjunto de tendências, preferências e convenções que se consolidaram ao longo do tempo e que são, em grande medida, contextuais e dependentes da situação comunicativa. A ideia de uma norma única e inflexível ignora a riqueza e a dinâmica da língua viva, perpetuando um mito que dificulta o acesso à compreensão da linguagem e à sua apropriação por falantes de diferentes perfis.

O que geralmente se denomina “norma culta” é, na verdade, um ideal linguístico baseado em modelos literários e em usos prestigiados em certos contextos, como os acadêmicos, jornalísticos e jurídicos. Esses modelos, contudo, não são estáticos. A língua evolui constantemente, absorvendo novas expressões, adaptando-se a novas tecnologias e refletindo as mudanças sociais. O que era considerado “culto” há décadas pode, hoje, parecer arcaico ou artificial.

A própria ideia de “maior escolaridade e acesso à cultura” como determinantes da utilização da norma culta precisa ser revisitada. A formação educacional formal desempenha um papel importante na aquisição do conhecimento gramatical, mas não garante, por si só, a adoção de uma determinada variedade linguística. Indivíduos com baixa escolaridade podem dominar perfeitamente as convenções da norma culta em contextos específicos, enquanto indivíduos altamente escolarizados podem optar por variedades mais informais, dependendo da situação comunicativa e do seu interlocutor.

Portanto, em vez de buscar uma regra definitiva e universal, é mais produtivo compreender a norma culta como um espectro de possibilidades, um conjunto de escolhas que visam à clareza, à precisão e à adequação ao contexto. A escolha por uma determinada construção linguística – seja na escrita ou na fala – depende da intenção comunicativa, do público-alvo e do meio utilizado. Um discurso acadêmico exigirá um nível de formalidade diferente de uma conversa informal entre amigos.

A valorização exacerbada de uma norma culta idealizada, muitas vezes associada a preconceitos linguísticos, leva à marginalização de outras variedades linguísticas igualmente ricas e complexas. Compreender a norma culta como um conjunto de convenções contextuais e dinâmicas, e não como uma regra imutável, é fundamental para promover uma visão mais inclusiva e realista da língua portuguesa brasileira e para desmistificar a ideia de uma “regra” única e definitiva. O verdadeiro domínio da língua reside na capacidade de flexibilizar o uso da linguagem, adaptando-a às diferentes situações e contextos comunicativos.