O que forma a língua escrita?

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A língua escrita resulta da interação entre três elementos cruciais: o significado inerente à língua, moldado pela estrutura social de seus usuários; a relação entre quem escreve e quem lê, influenciada pelo contexto social; e, finalmente, o sistema de representação gráfica escolhido (alfabeto, ideogramas etc.), que permite a materialização da linguagem.

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A Gênese da Língua Escrita: Um Triângulo de Significados

A língua escrita, longe de ser uma mera transcrição fiel da fala, é um complexo sistema de representação que emerge da interação dinâmica de três pilares fundamentais: o significado socialmente construído, a relação comunicativa entre escritor e leitor, e o sistema gráfico escolhido. A compreensão de sua formação requer uma análise minuciosa dessas três vertentes, que, juntas, moldam a expressão escrita.

1. O Significado Inerente e a Teia Social: A língua, antes mesmo de ser escrita, existe como um sistema de significação compartilhado por uma comunidade. Seu significado não é inerente às palavras em si, mas sim construído socialmente, refletindo a cultura, as experiências e as relações de poder de seus falantes. A maneira como uma sociedade concebe o mundo, seus valores e suas hierarquias, se refletem diretamente na sua linguagem, influenciando o vocabulário, a gramática e até mesmo a sintaxe. Por exemplo, a ênfase em formalidade ou informalidade, presente em diferentes culturas, impactará significativamente a língua escrita correspondente. Um texto jurídico, com sua linguagem técnica e formal, difere drasticamente de um conto de fadas, que frequentemente utiliza linguagem informal e figurativa, ambos refletindo a natureza de seus contextos sociais.

2. A Relação Comunicativa e o Contexto Social: A língua escrita não existe num vácuo. Ela é sempre mediada por uma relação entre um produtor (escritor) e um receptor (leitor), influenciada pelo contexto social em que a comunicação ocorre. A escolha lexical, a estrutura sintática e o tom empregados variam significativamente dependendo do público-alvo, do objetivo da comunicação e do grau de formalidade exigido. Uma carta pessoal terá um tom diferente de um artigo científico, e um e-mail para um chefe exigirá uma linguagem mais formal que uma mensagem para um amigo. Este elemento contextual, portanto, é crucial na formação da mensagem escrita, moldando-a para atingir seu propósito comunicativo de forma eficaz.

3. O Sistema de Representação Gráfica: Da Ideia à Materialização: Finalmente, a língua escrita precisa de um sistema gráfico para se materializar. Seja através do alfabeto, dos ideogramas, dos hieróglifos ou de qualquer outro sistema de escrita, a escolha da forma gráfica influencia diretamente a percepção e a interpretação do texto. Um alfabeto fonético, como o latino, representa os sons da fala, enquanto os ideogramas representam ideias ou conceitos. Essa escolha técnica, portanto, não é neutra, afetando a complexidade, a acessibilidade e a própria forma de organização da escrita. A escolha de uma fonte, por exemplo, pode impactar a percepção da formalidade ou informalidade de um texto.

Em síntese, a língua escrita não é uma entidade monolítica, mas sim um produto dinâmico e complexo. A sua formação é resultado da interação constante entre o significado socialmente construído, a relação comunicativa entre escritor e leitor, e o sistema gráfico empregado para sua materialização. Compreender essa tríplice interação é fundamental para decifrar a riqueza e a complexidade da linguagem escrita em suas múltiplas manifestações.