Como pessoas surdas aprendem a escrever?

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Para surdos, aprender a escrever equivale a dominar uma segunda língua, com modalidade diferente de sua língua natural — a língua de sinais. Em contraponto, para ouvintes, é apenas o aprendizado de uma modalidade alternativa da mesma língua, já internalizada oralmente. A diferença reside na natureza da primeira língua de cada grupo.

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Como Pessoas Surdas Aprendem a Escrever?

Aprender a escrever para uma pessoa surda é uma jornada distinta da vivenciada por um ouvinte. Não se trata simplesmente de aprender uma forma alternativa de registrar a língua materna, mas de dominar uma nova modalidade de expressão escrita, quase como aprender uma segunda língua. Essa diferença crucial se deve à natureza fundamentalmente diferente da primeira língua da pessoa surda: a Língua Brasileira de Sinais (Libras).

Para os ouvintes, a escrita representa uma extensão da língua falada, uma maneira de registrar e compartilhar a mesma estrutura linguística já internalizada. O aprendizado da escrita, nesse caso, é geralmente uma consequência natural do desenvolvimento da fala. As regras gramaticais, a estrutura sintática e o vocabulário são aprendidos e aprimorados em paralelo à aquisição da língua oral.

Para as pessoas surdas, a escrita se apresenta como um código diferente, uma nova forma de expressão. A aquisição da Libras, como língua materna, se dá por meio de experiências sociais, interações e aprendizado direto, sem a mediação da audição. A escrita, portanto, demanda a tradução dessa experiência linguística em um sistema gráfico, muitas vezes sem o auxílio de um equivalente sonoro.

O processo de aprendizado da escrita para surdos envolve, então, a transposição de conceitos e estruturas da Libras para o alfabeto escrito. Isso exige um esforço cognitivo adicional, uma vez que a sintaxe, a gramática e a organização do pensamento podem diferir entre as duas modalidades. A necessidade de dominar a ortografia, a pontuação e as convenções da escrita na língua portuguesa representa um desafio a ser superado.

Vários fatores influenciam a trajetória de aprendizado. A idade de início na aprendizagem da escrita, a qualidade do ensino, o acesso a materiais didáticos adaptados e a presença de apoio especializado são essenciais. A interação com a comunidade surda, através da Libras, também contribui significativamente para a compreensão da estrutura e riqueza linguística.

A compreensão da estrutura linguística da Libras e o desenvolvimento de estratégias de tradução para a escrita são cruciais. Métodos que valorizam a experiência e as habilidades linguísticas já desenvolvidas em Libras, aliadas a práticas de letramento específicas, podem otimizar o aprendizado.

É fundamental destacar que o aprendizado da escrita por surdos não se resume apenas a copiar palavras ou frases; é a construção de um repertório linguístico escrito, permitindo-lhes expressar seus pensamentos, sentimentos e experiências de forma mais abrangente e autônoma. A escrita, para eles, é um instrumento crucial para a construção da identidade, a participação social e o acesso à informação. A sociedade, por sua vez, precisa se adaptar para criar ambientes inclusivos que valorizem a língua e a cultura surda, permitindo que os surdos se expressem em todas as suas formas.