Por que alguns autistas não falam?

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No autismo, déficits na comunicação social prejudicam a fala, resultando em atrasos na oralidade.

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O Silêncio no Espectro: Desvendando as Razões Por Trás da Ausência da Fala em Pessoas Autistas

A percepção comum sobre o autismo frequentemente evoca a imagem de dificuldades na interação social e comunicação. No entanto, a maneira como essas dificuldades se manifestam varia enormemente. Uma das expressões mais impactantes dessa variabilidade é a ausência da fala em algumas pessoas autistas. Embora a comunicação social seja um desafio central, reduzi-la a um simples “déficit que impede a fala” é uma simplificação que obscurece a complexidade da questão.

Este artigo busca explorar as nuances por trás do silêncio no espectro autista, indo além da ideia de um mero “atraso na oralidade”. Entender por que algumas pessoas autistas não desenvolvem a fala é crucial para oferecer suporte adequado, promover a comunicação alternativa e desafiar preconceitos.

A Complexidade da Comunicação:

É fundamental entender que a fala é apenas uma das formas de comunicação humana. O silêncio não significa ausência de pensamento, sentimento ou necessidade de se comunicar. A comunicação é multifacetada e envolve linguagem corporal, expressões faciais, gestos, escrita, uso de tecnologia e outras formas não verbais.

Para pessoas autistas não falantes, as dificuldades não se restringem à produção de palavras. O desafio muitas vezes reside na:

  • Compreensão da Linguagem: A dificuldade em processar e interpretar informações verbais pode tornar a aquisição da fala extremamente difícil. Mesmo compreendendo algumas palavras, a capacidade de integrá-las em frases e usar a linguagem de forma funcional pode ser comprometida.
  • Planejamento Motor da Fala (Apraxia): Em alguns casos, a dificuldade em articular os sons da fala não é causada por uma questão estrutural, mas sim por um problema no planejamento e na execução dos movimentos necessários para produzir os sons.
  • Sobrecarga Sensorial: O ambiente sensorial intenso pode ser avassalador para pessoas autistas, dificultando a concentração e a capacidade de se expressar verbalmente.
  • Dificuldade na Expressão das Intenções Comunicativas: A dificuldade em iniciar e manter interações sociais, bem como em expressar seus desejos e necessidades de forma clara, pode levar à diminuição da motivação para usar a fala.

Além do “Atraso na Oralidade”:

A expressão “atraso na oralidade” pode ser minimizadora, pois sugere uma espera passiva pela aquisição da fala. É fundamental adotar uma postura proativa, buscando alternativas de comunicação que permitam à pessoa autista expressar-se e interagir com o mundo. Algumas dessas alternativas incluem:

  • Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA): Abrange uma variedade de ferramentas e estratégias, como pranchas de comunicação, aplicativos em tablets, dispositivos de saída de voz (VOCAs) e o Sistema de Comunicação por Troca de Figuras (PECS).
  • Linguagem de Sinais: Embora menos utilizada no Brasil, a linguagem de sinais pode ser uma forma eficaz de comunicação para algumas pessoas autistas.
  • Escrita: Para alguns, a escrita pode ser uma forma mais acessível de expressar seus pensamentos e sentimentos, especialmente em situações de sobrecarga sensorial.
  • Expressão Artística: A música, a pintura, o desenho e outras formas de arte podem servir como canais de comunicação e expressão.

A Importância da Aceitação e do Apoio:

A ausência da fala não define o potencial de uma pessoa autista. É crucial reconhecer e valorizar suas habilidades e talentos, oferecendo um ambiente acolhedor e inclusivo que promova a comunicação em todas as suas formas.

O apoio da família, dos profissionais de saúde e da comunidade é fundamental para:

  • Identificar as necessidades comunicativas individuais: Cada pessoa autista é única, e suas necessidades comunicativas variam.
  • Explorar e implementar estratégias de CAA: É importante experimentar diferentes métodos para encontrar aqueles que melhor se adaptam às necessidades e habilidades da pessoa.
  • Promover a inclusão social: Criar oportunidades para que pessoas autistas não falantes interajam com outras pessoas e participem da vida em comunidade.
  • Combater o capacitismo: Desafiar preconceitos e estereótipos sobre pessoas não falantes, reconhecendo seu valor e potencial.

Em resumo, a ausência da fala no autismo é um fenômeno complexo que não pode ser reduzido a um simples “atraso na oralidade”. Compreender as diversas razões por trás do silêncio, oferecer alternativas de comunicação e promover a inclusão são passos essenciais para garantir que todas as pessoas autistas tenham a oportunidade de se expressar, interagir e viver plenamente. Ao invés de focar naquilo que “falta”, devemos celebrar a diversidade de formas de comunicação e construir um mundo mais inclusivo para todos.