Quais são as causas da disortografia?

A Complexidade das Causas da Disortografia: Um Olhar Multifatorial

A disortografia, dificuldade de escrita que afeta a ortografia, não possui uma única causa, mas sim um conjunto complexo e interligado de fatores. Compreender essa multicausalidade é crucial para a implementação de intervenções eficazes e personalizadas. Ao contrário de uma simples falta de atenção ou preguiça, a disortografia possui raízes profundas em diferentes áreas do desenvolvimento neuropsicológico da criança.

Ao invés de focar em uma causa única e simplista, a pesquisa atual aponta para uma convergência de fatores que interagem e se influenciam mutuamente, culminando no quadro de disortografia. Podemos classificá-los em algumas categorias principais, sem, contudo, estabelecer uma hierarquia de importância, pois a influência de cada fator varia significativamente entre os indivíduos:

1. Déficits de Processamento da Informação:

• Percepção Visual: Dificuldades na discriminação visual de letras e símbolos, na percepção da forma e orientação espacial das letras, e na integração visual de informações podem prejudicar a escrita. A criança pode ter problemas para diferenciar letras parecidas (p/q, b/d), identificar erros ortográficos ou copiar textos com precisão.

• Percepção Auditiva: Problemas na discriminação fonêmica (capacidade de distinguir os sons da fala) são frequentemente associados à disortografia. A criança pode ter dificuldades em segmentar palavras em fonemas, o que dificulta a codificação ortográfica. A compreensão da estrutura sonora das palavras é essencial para a escrita correta.

• Processamento Temporal: A capacidade de sequenciar informações temporalmente é crucial para a escrita. A criança com disortografia pode ter problemas para lembrar a sequência de letras em uma palavra ou para coordenar a grafia com a fala. Essa dificuldade também pode impactar a fluência na escrita.

2. Dificuldades de Linguagem:

• Articulação: Problemas de articulação podem dificultar a conexão entre a fala e a escrita. A criança pode ter dificuldades em pronunciar corretamente as palavras, o que afeta sua capacidade de representá-las graficamente.

• Vocabulário: Um vocabulário limitado pode restringir a capacidade da criança de acessar as palavras necessárias para a escrita, além de dificultar a compreensão das regras ortográficas. A falta de exposição a diferentes palavras e contextos linguísticos impacta diretamente a performance ortográfica.

3. Fatores Neuropsicológicos:

• Memória de Trabalho: A memória de trabalho, responsável por manter informações em mente enquanto se executa uma tarefa, é fundamental para a escrita. A criança com disortografia pode ter dificuldade em reter a sequência de letras durante a escrita de uma palavra ou frase.

• Planejamento Motor: A execução da escrita envolve um complexo planejamento motor fino. Dificuldades nesse processo podem levar a uma escrita ilegível e com erros ortográficos.

4. Aspectos Afetivo-Emocionais:

A ansiedade, baixa autoestima e falta de confiança podem exacerbar as dificuldades de escrita. O medo do erro pode levar à evitação da escrita, criando um ciclo vicioso que agrava o problema. Um ambiente escolar positivo e estimulante é crucial para minimizar o impacto desses fatores.

Em suma, a disortografia é um transtorno complexo que requer uma avaliação abrangente para identificar os fatores específicos que contribuem para o quadro de cada indivíduo. Uma abordagem multidisciplinar, envolvendo profissionais da educação, psicopedagogia e neuropsicologia, é fundamental para o desenvolvimento de intervenções eficazes e personalizadas que visem ao sucesso escolar e à construção da autoestima da criança. Compreender a complexidade de suas causas é o primeiro passo para a construção de um caminho de aprendizagem mais inclusivo e eficaz.