Quais são as gramáticas normativas?

13 visualizações

A gramática normativa, aprendida na escola, define as regras para a escrita e fala formal do português, adaptando-se à norma culta de determinada época. Essa gramática se divide em três partes principais: Fonética (estudo dos sons da fala), Morfologia (análise da estrutura das palavras) e Sintaxe (organização das palavras em frases).

Feedback 0 curtidas

Além da Sala de Aula: Desvendando as Faces da Gramática Normativa

A gramática normativa, aquela que aprendemos na escola e que muitas vezes nos causa arrepios, é um sistema complexo e, frequentemente, mal compreendido. Mais do que uma simples lista de regras a serem memorizadas, ela representa um esforço de sistematização da língua portuguesa, buscando descrever a norma culta vigente em um determinado período histórico. Compreendê-la não se resume à memorização de regras de concordância verbal ou colocação pronominal; é preciso entender seu propósito, suas limitações e sua evolução.

A afirmação de que a gramática normativa se divide em Fonética, Morfologia e Sintaxe, embora simplificada, serve como ponto de partida. De fato, essas três áreas constituem pilares fundamentais, mas a realidade é mais rica e interconectada. Vamos explorá-las de forma a transcender a visão reducionista:

1. Fonética e Fonologia (além dos sons): Enquanto a fonética descreve os sons da língua, a fonologia se concentra em sua organização e funcionamento no sistema linguístico. A gramática normativa, nesse aspecto, prioriza a representação escrita dos sons, definindo padrões ortográficos e regras de pronúncia consideradas “culta”. Entretanto, a diversidade fonética do português brasileiro, com suas variações regionais e sociais, muitas vezes não encontra espaço completo nesse escopo normativo. A pronúncia considerada “correta” é, na realidade, uma construção social e histórica, sujeita a mudanças.

2. Morfologia (mais que a estrutura das palavras): A morfologia analisa a estrutura interna das palavras, classificando-as em categorias gramaticais (substantivos, adjetivos, verbos etc.) e examinando seus morfemas (unidades mínimas de significado). A gramática normativa prescreve o uso correto dessas categorias e a formação de palavras, reprimindo, por exemplo, o uso de formas consideradas incorretas ou arcaicas. Entretanto, a dinâmica da língua permite a criação constante de novas palavras e a adaptação de outras, desafiando, constantemente, a capacidade da gramática normativa de abarcar toda a riqueza morfológica.

3. Sintaxe (a organização das ideias): A sintaxe estuda a organização das palavras em frases e orações, definindo a ordem dos termos e as relações sintáticas entre eles. A gramática normativa estabelece padrões de concordância, regência e colocação pronominal, definindo o que é considerado “correto” em termos de estrutura frasal. Porém, a flexibilidade da língua portuguesa, que permite diferentes estruturas para expressar a mesma ideia, nem sempre se encaixa perfeitamente nas regras sintáticas prescritas. A busca pela clareza e elegância na escrita, por exemplo, pode se sobrepor às regras rígidas em certos contextos.

Além das Três Áreas Centrais: É importante ressaltar que a gramática normativa engloba outras áreas, como a Semântica (estudo do significado) e a Pragmática (estudo do uso da linguagem em contexto). Embora não sejam explicitamente tratadas da mesma forma que a fonética, morfologia e sintaxe, elas exercem uma influência crucial na definição do que é considerado “correto” ou “adequado” em diferentes situações comunicativas.

Em conclusão, a gramática normativa é um instrumento valioso para a escrita formal e a comunicação culta, mas deve ser vista como uma construção social e histórica, em constante evolução e com suas limitações inerentes. Compreender sua natureza e seus limites é fundamental para um uso consciente e eficaz da língua portuguesa, permitindo-nos apreciar tanto a sua riqueza e flexibilidade quanto a importância da norma culta em contextos específicos. Ignorar a gramática normativa pode ser prejudicial em contextos formais, mas entendê-la em sua complexidade permite um diálogo mais crítico e produtivo com a própria língua.