Quais são as três grandes concepções de alfabetização?

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Segundo Morais e Albuquerque (2005a), a alfabetização é compreendida, academicamente, sob três grandes perspectivas: a psicogênese da língua escrita, que investiga o desenvolvimento da escrita na criança; a relação entre consciência fonológica e alfabetização; e, finalmente, os estudos sobre letramento, focando o uso social da escrita.

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As Três Grandes Concepções de Alfabetização

A alfabetização, processo fundamental para a inserção social e cognitiva, é compreendida, academicamente, sob diferentes perspectivas. Segundo Morais e Albuquerque (2005a), três grandes concepções se destacam, cada uma com seu foco e metodologia: a psicogênese da língua escrita, a relação entre consciência fonológica e alfabetização, e os estudos sobre letramento.

1. A Psicogênese da Língua Escrita: Esta perspectiva, profundamente influenciada por teóricos como Emilia Ferreiro e Ana Teberosky, investiga o desenvolvimento da escrita na criança. Não se limita a ensinar letras e sílabas, mas busca compreender como a criança constrói seu próprio conhecimento sobre a escrita, partindo de hipóteses iniciais e evoluindo para uma compreensão mais elaborada das regras gramaticais e ortográficas. A ênfase está na trajetória individual do aprendizado, nos processos internos de construção do significado e na compreensão das etapas que a criança percorre até dominar a escrita. Observa-se, então, a importância de se respeitar o ritmo de cada criança e de se observar suas estratégias para a construção do conhecimento. Professoras e educadores assumem um papel crucial como mediadores, propiciando situações de aprendizagem que possibilitem à criança questionar, experimentar e construir seu próprio entendimento sobre o sistema de escrita.

2. A Relação entre Consciência Fonológica e Alfabetização: Esta concepção destaca a importância da consciência fonológica – a capacidade de perceber e manipular os sons da fala – para o sucesso na alfabetização. A criança que domina os fonemas, suas combinações e suas relações com as letras, geralmente apresenta um aprendizado mais rápido e eficaz. Os estudos sobre consciência fonológica indicam que habilidades como rimar, segmentar palavras em sílabas e reconhecer fonemas isolados são preditivas da aquisição da escrita. A abordagem pedagógica que valoriza esta concepção geralmente inclui atividades que promovem a reflexão sobre a estrutura sonora da língua, como jogos de rimas, separação de sílabas e análise de fonemas. Esta perspectiva reconhece a interdependência entre o conhecimento oral e o escrito, enfatizando o papel fundamental da linguagem oral na construção da leitura e escrita.

3. Os Estudos sobre Letramento: Enquanto as duas perspectivas anteriores focam no processo de decodificação e codificação da escrita, a abordagem de letramento se concentra no uso social da escrita. Ela vai além da mera alfabetização, considerando a prática da leitura e escrita em contextos reais, como em textos de jornais, revistas, livros e materiais diversos. O letramento envolve a compreensão da função social da escrita, a capacidade de interpretar e produzir diferentes gêneros textuais, a familiaridade com diversas práticas discursivas e o uso da escrita como ferramenta de comunicação e participação social. Esta concepção reconhece a importância do ambiente social e cultural na aquisição da escrita, valorizando o contexto de uso da língua para a construção de significados. Aprofunda-se, então, a compreensão de que a alfabetização não é um fim em si mesma, mas um meio para o desenvolvimento de habilidades essenciais para a vida na sociedade letrada.

Em resumo, as três grandes concepções de alfabetização, apesar de distintas, complementam-se. Um ensino eficaz deve integrar esses três aspectos, promovendo o desenvolvimento da escrita como um processo complexo e dinâmico, que envolve a construção individual de conhecimento, a manipulação da linguagem oral e o uso social da escrita. Compreender essas perspectivas permite uma prática pedagógica mais abrangente e eficaz, contribuindo para a formação de leitores e escritores autônomos e competentes.