Qual deve ser a primeira língua do surdo?

A Primeira Língua do Surdo: Libras como Base para o Desenvolvimento Cognitivo e da Identidade

A discussão sobre qual deve ser a primeira língua de uma criança surda é fundamental para garantir seu pleno desenvolvimento linguístico, cognitivo e social. Enquanto algumas perspectivas ainda defendem o ensino prioritário da língua oral, a tendência crescente e respaldada por pesquisas científicas aponta para a Língua Brasileira de Sinais (Libras) como a primeira língua natural dos surdos. Essa posição, defendida por especialistas e legisladores como o deputado federal Marcelo Aro (PP-MG), reconhece a Libras não apenas como um meio de comunicação, mas como um elemento crucial na formação da identidade e no desenvolvimento cognitivo da comunidade surda.

A premissa central é simples: a língua materna, seja ela oral ou sinalizada, é o alicerce para o desenvolvimento da linguagem e do pensamento. Privar uma criança surda do acesso precoce e fluente à Libras significa privá-la da oportunidade de construir uma base sólida para a aquisição de outras línguas, incluindo a língua portuguesa escrita. A imposição de uma língua oral como primeira língua, sem o suporte adequado da Libras, pode resultar em atrasos significativos no desenvolvimento linguístico, dificuldades de comunicação e, consequentemente, impactos negativos na autoestima e na inclusão social.

A Libras, como qualquer língua natural, possui uma estrutura gramatical complexa e rica, capaz de expressar nuances e conceitos abstratos. Seu aprendizado precoce contribui para o desenvolvimento de habilidades cognitivas essenciais, como a memória, a atenção, o raciocínio lógico e a capacidade de abstração. Estudos demonstram que crianças surdas expostas à Libras desde cedo apresentam um desenvolvimento cognitivo comparável ao de crianças ouvintes expostas à sua língua materna oral. A privação desse acesso precoce pode levar a um atraso significativo nesses aspectos.

Além do desenvolvimento cognitivo, a Libras desempenha um papel fundamental na formação da identidade surda. Através dela, a criança surda se conecta com sua cultura, sua comunidade e sua história. A Libras é um instrumento de pertencimento, que permite a construção de uma identidade linguística e cultural forte, combatendo a marginalização e a sensação de diferença frequentemente impostas aos surdos em um mundo predominantemente ouvinte. A fluência em Libras promove o empoderamento e a autonomia do indivíduo surdo.

Por fim, o argumento de que o conhecimento da língua portuguesa escrita é essencial para a inclusão social não invalida a importância da Libras como primeira língua. Na verdade, o domínio da Libras facilita a aprendizagem da língua portuguesa escrita, pois cria uma base linguística sólida e um entendimento mais profundo dos conceitos gramaticais. Um modelo bilíngue, que privilegia a Libras como primeira língua e posteriormente incorpora o português escrito, demonstra ser a abordagem mais eficaz para o desenvolvimento integral do indivíduo surdo.

Em resumo, a defesa da Libras como primeira língua do surdo não se trata de um ato de exclusão da língua portuguesa, mas sim de uma luta pela inclusão plena, pelo reconhecimento da identidade surda e pelo direito ao desenvolvimento cognitivo e linguístico pleno. A Libras é a chave para abrir portas de oportunidades, para construir um futuro de sucesso e participação ativa na sociedade.