Como lidar com doentes com alteração do comportamento?

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Em casos de alteração comportamental em doentes, mantenha a calma e fale suavemente. Se não houver sucesso, distraia-o com tópicos ou atividades agradáveis. No Alzheimer avançado, alucinações são comuns devido a alterações na percepção sensorial.

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Navegando o Labirinto da Alteração Comportamental em Doentes: Um Guia Prático

Lidar com a alteração comportamental em doentes pode ser um dos desafios mais angustiantes para cuidadores e familiares. Observar um ente querido perder a estabilidade emocional, a racionalidade ou exibir comportamentos incomuns é doloroso e exige paciência, compreensão e, acima de tudo, uma abordagem estratégica. Embora o conselho de manter a calma, falar suavemente e distrair com atividades agradáveis seja um bom ponto de partida, a realidade da alteração comportamental é frequentemente mais complexa e multifacetada.

Este artigo busca expandir a compreensão sobre o tema, oferecendo um guia mais aprofundado sobre como lidar com a alteração comportamental em doentes, explorando as causas, as estratégias de intervenção e a importância do cuidado com o cuidador.

Entendendo a Alteração Comportamental: Mais que Apenas Sintomas

A alteração comportamental não é uma doença em si, mas sim um sintoma. Ela pode se manifestar de diversas formas, incluindo:

  • Agitação: Inquietação, andar sem rumo, incapacidade de permanecer sentado.
  • Agressividade: Verbal (insultos, ameaças) ou física (empurrões, socos).
  • Confusão: Desorientação no tempo, espaço ou identidade.
  • Delírios: Crenças falsas e irrealistas.
  • Alucinações: Percepções sensoriais que não correspondem à realidade (visuais, auditivas, olfativas, táteis).
  • Depressão: Tristeza persistente, perda de interesse em atividades, alterações no sono e apetite.
  • Ansiedade: Preocupação excessiva, medo, nervosismo.
  • Desinibição: Comportamentos inadequados ou socialmente inaceitáveis.
  • Isolamento social: Retraimento da interação social.

É crucial entender que esses comportamentos não são, na maioria das vezes, intencionais. Eles são frequentemente o resultado de uma condição médica subjacente que afeta o cérebro.

As Causas por Trás da Mudança: Uma Investigação Necessária

A alteração comportamental pode ter diversas causas, desde condições médicas tratáveis até doenças neurodegenerativas progressivas. Algumas causas comuns incluem:

  • Doenças Neurodegenerativas: Alzheimer, Parkinson, demência frontotemporal.
  • Condições Médicas Agudas: Infecções (urinária, pneumonia), desidratação, dor, constipação.
  • Efeitos Colaterais de Medicamentos: Especialmente em idosos, que são mais sensíveis aos efeitos de múltiplos medicamentos.
  • Problemas Psiquiátricos: Depressão, ansiedade, esquizofrenia.
  • Privação de Sono: A falta de sono adequado pode exacerbar problemas cognitivos e comportamentais.
  • Estresse e Mudanças Ambientais: Mudanças na rotina, ambiente desconhecido ou barulho excessivo podem desencadear a alteração comportamental.
  • Problemas Metabólicos: Alterações nos níveis de glicose, sódio ou cálcio no sangue.

Ações Práticas: Estratégias de Intervenção Efetivas

Diante de um paciente com alteração comportamental, a primeira atitude é garantir a segurança do paciente e de quem o está cuidando. Uma vez que a segurança esteja assegurada, siga estas etapas:

  1. Busque Ajuda Médica: O primeiro passo é consultar um médico para identificar a causa subjacente da alteração comportamental. O diagnóstico preciso é fundamental para um tratamento eficaz.
  2. Crie um Ambiente Calmo e Seguro: Reduza o ruído, a desordem e a estimulação excessiva. Um ambiente familiar e previsível pode ajudar a acalmar o paciente.
  3. Comunique-se de Forma Clara e Concisa: Use frases curtas e simples. Fale lentamente e em um tom de voz calmo e gentil. Mantenha contato visual e seja paciente.
  4. Valide os Sentimentos: Mesmo que os delírios ou alucinações não sejam reais, valide os sentimentos do paciente. Reconheça que ele está experimentando algo real e assustador.
  5. Redirecione a Atenção: Tente distrair o paciente com atividades que ele goste, como ouvir música, olhar fotos antigas ou fazer um passeio curto.
  6. Estabeleça uma Rotina: Uma rotina previsível pode ajudar a reduzir a ansiedade e a confusão.
  7. Mantenha a Calma: É fundamental manter a calma, mesmo que a situação seja desafiadora. A ansiedade e o medo são contagiosos e podem exacerbar a agitação do paciente.
  8. Simplifique as Tarefas: Divida as tarefas em etapas menores e mais fáceis de realizar.
  9. Adapte a Comunicação: Se o paciente tiver dificuldade para entender, use gestos, imagens ou outras formas de comunicação não verbal.
  10. Observe os Gatilhos: Tente identificar os fatores que desencadeiam a alteração comportamental. Anote os horários, os eventos e as situações que precedem os episódios.
  11. Considere a Terapia Ocupacional: Um terapeuta ocupacional pode ajudar a adaptar o ambiente e as atividades para atender às necessidades do paciente.
  12. Explore Terapias Não Farmacológicas: Musicoterapia, arteterapia, terapia com animais e outras terapias não farmacológicas podem ser úteis para reduzir a agitação e melhorar o humor.
  13. Medicação: Em alguns casos, a medicação pode ser necessária para controlar a alteração comportamental. No entanto, a medicação deve ser utilizada com cautela e sob supervisão médica rigorosa.
  14. Crie um Plano de Crise: Antecipe situações de crise e desenvolva um plano com a ajuda de profissionais de saúde. O plano deve incluir estratégias para lidar com a agitação, a agressividade e outros comportamentos problemáticos.

Alzheimer Avançado e Alucinações: Uma Realidade Complexa

No estágio avançado da doença de Alzheimer, as alucinações visuais são comuns. É importante lembrar que o paciente está vivenciando essas alucinações como reais. Evite confrontá-lo ou tentar convencê-lo de que não são reais. Em vez disso, ofereça conforto e segurança. Assegure-se de que o ambiente esteja bem iluminado e livre de objetos que possam ser confundidos com sombras ou vultos.

Cuidando do Cuidador: Um Elemento Essencial

Cuidar de um paciente com alteração comportamental pode ser extremamente desgastante física e emocionalmente. É fundamental que o cuidador também receba apoio.

  • Busque Apoio: Converse com amigos, familiares, grupos de apoio ou profissionais de saúde.
  • Cuide da Sua Saúde: Durma o suficiente, alimente-se de forma saudável e pratique exercícios físicos regularmente.
  • Reserve Tempo para Você: Faça atividades que você goste e que o ajudem a relaxar.
  • Peça Ajuda: Não tenha medo de pedir ajuda de outros familiares, amigos ou profissionais.
  • Considere a Terapia: A terapia pode ajudar a lidar com o estresse, a ansiedade e a depressão.
  • Conheça Seus Limites: Saiba quando pedir ajuda e não se culpe por precisar de um tempo para si.

Conclusão

Lidar com a alteração comportamental em doentes é um desafio complexo que exige paciência, compreensão e uma abordagem multifacetada. Ao entender as causas subjacentes, implementar estratégias de intervenção eficazes e cuidar da saúde do cuidador, é possível melhorar a qualidade de vida tanto do paciente quanto de quem o acompanha nessa jornada. Lembre-se que você não está sozinho. Busque apoio, informação e orientação profissional. A jornada pode ser árdua, mas com a abordagem correta, é possível navegar por ela com mais segurança e compaixão.