Quantas palavras existem no dicionário português?

Quantas palavras existem no dicionário português? Um mergulho na complexidade lexical

A pergunta “quantas palavras existem no dicionário português?” parece simples, mas esconde uma complexidade fascinante. A resposta imediata nos leva ao Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp), da Academia Brasileira de Letras (ABL), que registra, em sua versão mais recente, mais de 382 mil verbetes. Esse número, acessível através do site da ABL e do aplicativo Volp (Android e iOS), representa um retrato da língua em constante evolução. No entanto, ele não conta toda a história.

Pensar que um dicionário, por mais robusto que seja, abarca a totalidade das palavras de uma língua é uma ilusão. O Volp, por exemplo, foca na ortografia oficial, deixando de lado inúmeras variantes regionais, gírias, jargões profissionais e neologismos que pululam no cotidiano. Além disso, a própria natureza dinâmica da língua, em constante transformação através da criatividade popular e da influência de outras culturas, torna a tarefa de quantificar seu léxico uma missão quase impossível.

Imagine as inúmeras expressões que surgem diariamente nas redes sociais, as gírias locais que identificam uma comunidade específica, ou os termos técnicos utilizados em áreas de conhecimento altamente especializadas. Essas palavras, embora façam parte da comunicação diária, muitas vezes não encontram espaço nos dicionários tradicionais. Portanto, o número apresentado pelo Volp, embora impressionante, representa apenas uma parcela, ainda que significativa, do universo lexical da língua portuguesa.

É importante também diferenciar palavra de verbete. O Volp registra verbetes, que podem conter várias palavras. Por exemplo, “amar” é um verbete que abriga “amo”, “amas”, “ama”, “amamos”, “amais”, “amam”. Contar cada flexão verbal como uma palavra diferente inflaria artificialmente a contagem. A própria ABL reconhece essa nuance e opta por apresentar o número de verbetes como referência.

Para além da contagem numérica, a riqueza da língua portuguesa reside na sua capacidade de expressar uma infinidade de sentidos, emoções e ideias. A busca por uma quantificação precisa, embora interessante do ponto de vista linguístico, não deve ofuscar a beleza e a complexidade inerentes a esse patrimônio cultural em constante movimento. O Volp serve como um guia, um ponto de referência, mas a verdadeira dimensão da língua portuguesa transborda as páginas de qualquer dicionário, vivendo e respirando na boca do povo.