Como classificar a personagem quanto à composição?

Desvendando a Complexidade dos Personagens: Uma Classificação Baseada na Composição

A construção de personagens é um dos pilares da narrativa, impactando diretamente a imersão do leitor ou espectador na história. A forma como um personagem é elaborado, sua profundidade psicológica e o arco de desenvolvimento que ele percorre definem sua classificação quanto à composição. Apesar de haver diversas nuances e classificações intermediárias, podemos simplificar a análise em três categorias principais: personagens redondos, planos e tipos. A distinção entre elas reside principalmente no grau de complexidade e desenvolvimento demonstrados ao longo da narrativa.

Personagens Redondos (ou Modelados): Estes são os personagens mais complexos e completos. Possuem uma psicologia rica e multifacetada, com motivações intrincadas, contradições internas e um processo evolutivo ao longo da trama. Não são seres unidimensionais; suas ações e reações são frequentemente imprevisíveis, refletindo a complexidade da natureza humana. A mudança, seja ela interna (mudança de valores, crenças) ou externa (mudança de status social, relacionamentos), é um elemento crucial na definição de um personagem redondo. Observamos neles um arco narrativo significativo, uma jornada de transformação que os torna memoráveis e verossímeis. Exemplos clássicos podem ser encontrados em personagens como Hamlet, de Shakespeare, ou Anna Karenina, da obra homônima de Tolstói.

Personagens Planos: Em contraponto aos personagens redondos, os planos são caracterizados pela simplicidade e falta de profundidade psicológica. Eles são estáticos, apresentando pouca ou nenhuma mudança ao longo da narrativa. Suas ações são previsíveis e geralmente servem para impulsionar a história a partir de um papel predefinido. Sua personalidade é superficial, com poucos traços definidos e sem conflitos internos relevantes. Embora possam ser importantes para a trama, sua função se limita a um papel funcional, sem a complexidade emocional e comportamental de um personagem redondo. Um exemplo comum seria o vilão unidimensional de um filme de ação, que existe apenas para criar obstáculos ao protagonista.

Personagens Tipos (ou Arquétipos): Esta categoria representa um intermediário, com características tanto de personagens planos quanto de personagens redondos, porém com uma função específica. São personagens planos que representam arquétipos, ou seja, padrões recorrentes e facilmente reconhecíveis na cultura e na literatura. Embora apresentem pouca ou nenhuma profundidade psicológica individual, sua função é justamente representar um tipo específico de pessoa, como o “herói clássico”, a “bruxa má”, o “amante apaixonado” ou o “nerd tímido”. A força de um personagem tipo reside em sua capacidade de evocar instantaneamente associações e expectativas no leitor ou espectador, mesmo sem uma caracterização profundamente individualizada. A eficácia de um personagem tipo reside na sua representatividade e na sua função imediata dentro da narrativa.

A fluidez das classificações: É importante ressaltar que as fronteiras entre essas categorias não são sempre rígidas. Um personagem pode apresentar características de mais de um tipo, transitando entre a complexidade e a simplicidade conforme a necessidade da narrativa. A classificação, portanto, deve ser vista como um instrumento de análise e interpretação, e não como uma definição absoluta e imutável. A chave para a compreensão da classificação reside na análise da complexidade psicológica, do desenvolvimento do personagem e da sua função dentro da obra literária ou cinematográfica.