Deve fazer-se ou deve-se fazer?

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As duas construções, deve-se fazer e deve fazer-se, são aceitáveis na norma culta do português brasileiro. A posição do pronome reflexivo varia de acordo com a preferência estilística e a sonoridade desejada na frase. Embora alguns gramáticos defendam a ênclise (pronome depois do verbo) em estruturas como essa, a próclise (pronome antes do verbo) é igualmente válida e amplamente utilizada, dependendo do contexto e da musicalidade da frase.

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Deve-se fazer ou deve fazer-se: uma questão de ritmo na língua portuguesa

A dúvida entre “deve-se fazer” e “deve fazer-se” é frequente entre falantes e escritores da língua portuguesa. Ambas as formas, com o pronome “se” em próclise (antes do verbo) ou ênclise (depois do verbo), são gramaticais e aceitas pela norma culta. No entanto, a escolha entre uma e outra vai além da mera correção e adentra o terreno da estilística e da musicalidade da frase.

A gramática tradicional, por vezes, preconiza a ênclise em locuções verbais como “deve fazer”, argumentando que o verbo auxiliar “deve” não justificaria a próclise. Contudo, a língua portuguesa, em seu uso real, demonstra grande flexibilidade na colocação pronominal. A próclise, em “deve-se fazer”, é não só comum como também perfeitamente natural, especialmente em contextos informais e na linguagem falada.

A preferência por uma ou outra forma pode ser influenciada por fatores rítmicos e de ênfase. A próclise, “deve-se fazer”, confere um ritmo mais fluido e ágil à frase, enquanto a ênclise, “deve fazer-se”, pode soar mais formal ou até mesmo arcaica em certos contextos. Observe os exemplos:

  • “Deve-se fazer o exercício com cuidado.” (Ênfase na ação e no cuidado)
  • “Deve fazer-se o que for necessário.” (Ênfase na necessidade e obrigação)

Perceba como a ênfase muda sutilmente dependendo da colocação do pronome. A escolha, portanto, deve ser guiada pela intenção comunicativa e pela harmonia da frase como um todo.

Outro fator a ser considerado é a presença de palavras atrativas. Se houver palavras como advérbios de negação, pronomes relativos ou indefinidos antes da locução verbal, a próclise torna-se obrigatória. Por exemplo:

  • “Não se deve fazer isso.” (Presença da palavra atrativa “não”)
  • “Quando se deve fazer a inscrição?” (Presença da palavra atrativa “quando”)

Em resumo, tanto “deve-se fazer” quanto “deve fazer-se” são construções corretas. A decisão por uma ou outra reside na harmonia da frase, no contexto comunicativo e na presença de palavras atrativas. A fluidez e a naturalidade da língua devem sempre prevalecer, permitindo que a escolha reflita a riqueza e a flexibilidade do português brasileiro.