Porque é que o verbo pôr é da segunda conjugação?

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O verbo pôr pertence à segunda conjugação por ser derivado de poer, que possuía a vogal temática e. A mudança fonética originou o verbo atual.

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O Mistério da Segunda Conjugação do Verbo “Pôr”: Uma Viagem Etimológica

A classificação do verbo “pôr” na segunda conjugação – a conjugação dos verbos terminados em -er – sempre gerou curiosidade em estudantes de português. Afinal, sua forma presente (“ponho”, “pões”, “põe”, etc.) não se assemelha à conjugação regular dos verbos da segunda conjugação, como “comer” ou “beber”. A resposta para essa aparente anomalia reside em sua rica história etimológica, uma jornada que nos leva para além das regras gramaticais atuais e revela a influência do latim na formação da língua portuguesa.

O segredo está na sua origem latina. O verbo “pôr” não surgiu espontaneamente na língua portuguesa com sua forma atual. Ele é um descendente direto do verbo latino ponere, que significa “colocar”. Ponere, em sua estrutura, possuía a vogal temática e, característica da segunda conjugação latina. Essa vogal temática era fundamental para a conjugação do verbo no latim.

Ao longo do processo de evolução do latim vulgar para o português arcaico, ponere sofreu alterações fonéticas. A forma poer, com o “e” claramente presente, é um reflexo dessa transição. Observem que a vogal temática “e” ainda se manifesta claramente nesta forma antiga.

A mudança para a forma atual, “pôr”, envolveu uma transformação fonética: a queda do “e” final e o surgimento do acento circunflexo no “ô”. Essa alteração fonética, embora tenha mudado a forma visual e a pronúncia, não alterou a sua classificação conjugacional. A herança da vogal temática “e” de sua forma ancestral poer, derivada do latim ponere, é o que define sua permanência na segunda conjugação.

Portanto, apesar de sua conjugação apresentar irregularidades em relação aos demais verbos da segunda conjugação, o verbo “pôr” mantém-se fiel à sua origem latina e à sua classificação histórica, derivando-se de uma forma que possuía a característica fundamental da segunda conjugação: a vogal temática “e”. A aparente irregularidade de sua conjugação é, na verdade, um vestígio de sua rica e complexa história etimológica, um testemunho silencioso da evolução da língua portuguesa. Entender esse processo histórico nos ajuda a apreciar a riqueza e a complexidade da gramática portuguesa e a apreciar as nuances de sua evolução.