Como é a escrita do surdo?
A escrita do surdo, também chamada de texto do surdo, reflete a experiência visual da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). Apresenta características próprias, influenciadas pela estrutura da LIBRAS e pelo contato com a língua portuguesa escrita. Explorar essa escrita singular revela a riqueza da comunicação surda.
A Escrita Singular do Surdo: Entre a LIBRAS e a Língua Portuguesa
A escrita de pessoas surdas não é simplesmente uma tradução literal da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) para o português. Ela é um sistema complexo e fascinante, que reflete a interação entre a experiência visual e espacial da LIBRAS, a língua portuguesa escrita e, muitas vezes, a própria trajetória individual de cada surdo. Compreender essa escrita única é fundamental para desmistificar a comunicação surda e valorizar sua riqueza linguística.
Ao contrário do que se possa imaginar, a escrita do surdo não é um “português com erros”. As diferenças observadas resultam de um processo de transposição de uma modalidade linguística (visual-espacial) para outra (escrita-linear). Elementos da LIBRAS, como a espacialidade, a iconicidade e a organização não-linear das informações, influenciam significativamente a forma como os surdos se expressam por escrito.
Influências da LIBRAS na escrita:
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Espacialidade: A LIBRAS utiliza o espaço para organizar as informações. Na escrita, isso pode se manifestar através de parágrafos curtos, uso de marcadores visuais (como listas e diagramas) ou até mesmo a descrição explícita da localização de personagens ou objetos em uma narrativa. Uma frase como “A mulher está atrás do carro” pode ser escrita como “Mulher. Atrás. Carro.”, simulando a organização espacial da LIBRAS.
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Iconicidade: A LIBRAS é rica em sinais icônicos, que imitam a forma ou o movimento do que representam. Na escrita, essa iconicidade pode ser refletida através de descrições detalhadas ou uso de metáforas visuais, buscando replicar a imagem mental evocada pelo sinal.
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Estrutura não-linear: A LIBRAS não segue uma estrutura linear como a língua portuguesa. A escrita do surdo pode, portanto, apresentar uma organização de ideias mais livre e menos formal, com intercalações e digressões que refletem a fluidez e a simultaneidade da LIBRAS.
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Emprego de abreviações e siglas: Similarmente à linguagem de texto on-line, a escrita surda pode fazer uso extenso de abreviações e siglas de sinais, desenvolvidos em comunidades surdas para facilitar a comunicação escrita rápida.
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Incorporação de elementos visuais: Não raro, observa-se a incorporação de desenhos, emojis e outros elementos visuais na escrita, buscando compensar a ausência da modalidade visual-espacial.
A influência da língua portuguesa escrita:
Apesar das características próprias, a língua portuguesa escrita exerce uma forte influência. Os surdos, na maioria das vezes, têm contato com essa língua desde a infância, seja através da educação, da família ou da sociedade. Esse contato molda sua escrita, mesmo que ela conserve marcas da LIBRAS.
A variação individual:
É importante ressaltar que a escrita de cada surdo é singular. A fluência em LIBRAS, o nível de contato com a língua portuguesa escrita, a escolarização e o ambiente social influenciam diretamente o estilo e as características da sua escrita. Não existe, portanto, um único padrão.
Concluindo, a escrita do surdo é um fenômeno linguístico complexo e fascinante, que merece ser estudado e compreendido em sua riqueza e diversidade. Considerá-la como um simples “português com erros” é ignorar a riqueza da cultura surda e a capacidade de adaptação e criação linguística dessa comunidade. Reconhecer e valorizar essa escrita única contribui para uma comunicação mais inclusiva e respeitosa.
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