Como identificar um gerundismo?

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O gerundismo, derivado do gerúndio, é uma forma verbal que funciona como adjetivo ou advérbio, identificando ações em andamento.

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Caçando o Gerundismo: Um Guia Prático para Identificar e Evitar esse Vício de Linguagem

O gerundismo, esse vilão da escrita e da fala formal, acomete a língua portuguesa com frequência, muitas vezes passando despercebido. Apesar de sua origem no gerúndio – forma nominal do verbo que indica ação contínua (ex: estudando, falando, correndo) – seu uso inadequado, o gerundismo, cria construções redundantes e, muitas vezes, ambíguas, prejudicando a clareza e a elegância do texto. Mas como identificá-lo?

A chave para reconhecer o gerundismo reside em observar a redundância e a imprecisão que ele introduz na frase. Em vez de acrescentar informações relevantes, ele frequentemente repete o que já está implícito ou cria uma ambiguidade sobre o agente da ação. Vejamos alguns casos comuns:

1. Gerundismo com Verbos de Estado: Este é o caso mais recorrente e, provavelmente, o mais fácil de identificar. Verbos que expressam estado, como ser, estar, ficar, parecer, permanecer, não admitem a companhia de um gerúndio que descreva uma ação simultânea de forma natural.

  • Exemplo incorreto: A empresa está funcionando há 10 anos. (Redundante, pois “funcionar” já implica em estado de funcionamento)
  • Exemplo correto: A empresa funciona há 10 anos. ou A empresa está em funcionamento há 10 anos.

2. Gerundismo com Verbos que já Expressam Continuidade: Verbos que indicam ações prolongadas no tempo dispensam a redundância do gerúndio.

  • Exemplo incorreto: Ele ficou esperando por horas. (Redundante, “ficar” já implica em duração)
  • Exemplo correto: Ele esperou por horas.

3. Ambiguidade na Ação: O gerundismo pode gerar confusão sobre quem realiza a ação.

  • Exemplo incorreto: O carro, batendo no muro, foi rebocado. (O carro bateu ou algo bateu no carro?)
  • Exemplo correto: O carro bateu no muro e foi rebocado. ou Batendo no muro, o carro foi rebocado. (Neste último caso, a ambiguidade permanece menor pois a estrutura da frase indica que o sujeito é o carro, mas a clareza ainda é inferior a uma frase sem gerundismo)

4. Gerundismo e a Preposição “Em”: A combinação de gerúndio com a preposição “em” muitas vezes sinaliza um gerundismo, criando frases prolixas.

  • Exemplo incorreto: Estou em processo de trabalhando no relatório.
  • Exemplo correto: Estou trabalhando no relatório. ou Estou a trabalhar no relatório.

5. Gerundismo com Conjunções: O uso inadequado do gerúndio com conjunções como “e”, “mas”, “ao”, também caracteriza o gerundismo. A redundância é gerada pela dupla indicação de tempo ou conexão entre as orações.

  • Exemplo incorreto: Cheguei em casa e tomando um banho.
  • Exemplo correto: Cheguei em casa e tomei um banho.

Em resumo: Para evitar o gerundismo, analise cuidadosamente as suas frases. Pergunte-se: a ação expressa pelo gerúndio é realmente necessária? Ela adiciona informações relevantes ou apenas repete o que já está implícito? Se a resposta for a segunda opção, considere a possibilidade de eliminá-lo. A clareza e a concisão são sempre preferíveis à redundância e à ambiguidade. Lembre-se: a beleza da língua portuguesa reside, em grande parte, na sua capacidade de expressar ideias de forma precisa e elegante, sem excessos desnecessários.